02 de Novembro – Como encarar o luto?
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Nov 01, 2016
Instituído no Brasil pela igreja católica, este é um dia em que as famílias homenageiam seus mortos, quer seja com todo um ritual de limpeza de túmulos, velas, flores, etc., quer seja com preces, pensamentos direcionados, ou outras ações condizentes com a crença religiosa de cada sujeito.
Esse é um momento melancólico para muitos que retomam, com mais intensidade, as lembranças sobre o ente querido que se foi. Se o luto foi bem elaborado, as lembranças são saudáveis, pois se tornam fonte de contato com a realidade de uma vida que segue, apesar da saudade da pessoa que morreu, uma vez que esta, agora, ocupa um novo lugar neste contexto.
Mesmo sendo um processo natural, o luto é um período de ebulição de emoções e sentimentos, como a tristeza, necessidade de aprendizado e de ressignificação de uma vida que, a partir de então, sofrerá alterações. Toda perda pressupõe mudanças. Vale lembrar que estas, geralmente, transcendem as questões psicológicas envolvendo, ainda, fatores de ordem econômica e social. Esse, em si, deve ser um período egocêntrico, onde o enlutado tenha a oportunidade de reconhecer suas emoções e sentimentos, como tristeza, raiva, medo, etc., e, como dito anteriormente, adaptar-se à nova realidade.
Inicialmente, a negação é natural, algumas pessoas encontram, como recurso inicial, “fingir que nada aconteceu” e, somente após algum tempo, “cai na real”, percebendo que se faz necessário o enfrentamento da nova realidade.
O vínculo entre a pessoa que sofreu a perda e o morto é algo que particulariza ainda mais o luto, pois quanto maior a ligação entre ambos, maior a necessidade de se aprender a conviver com a falta, o vazio que, com o tempo, transforma-se em saudade. Tempo, esse, que pode ser o melhor amigo ou o pior inimigo do enlutado, a depender de como seja elaborado o significado dessa perda.
O meio e a crença do sujeito são fatores que influenciam no processo do luto. Seja qual for o recurso utilizado pelo enlutado para adaptar-se à nova realidade (“brigar com Deus” porque levou o ente querido cedo demais, apesar da idade; falar sobre o morto ou sua morte, com frequência; ou, mesmo, buscar conforto na religião e suas crenças, dentre outros), será válido se o faz superar os desafios dessa perda.
Antigamente, as famílias passavam um ano de luto, com inúmeras restrições. Hoje, por exemplo, uma mãe trabalhadora que perde um filho, ou um esposo, são dados apenas sete dias de afastamento por óbito de seu ente querido. Isso, sem falar no fato de que, se ela sai sem se maquiar, “precisa reagir” e, se sai maquiada, nem sentiu a morte do familiar.
De maneira antagônica, é possível observar que a sociedade contemporânea tem a tendência de querer expor felicidade e bem-estar. As pessoas “não podem” sentir tristeza, precisam superar os desafios e observar apenas o lado positivo dos fatos.
Pensar em avaliar as intempéries que terão que enfrentar, admitir que terão momentos difíceis de adaptação, ou reconhecer que estão machucados, nem pensar, porque a ordem é: Fique bem! Supere logo, você está em foco!
Acolher o que se sente, analisar os desafios e superar as dificuldades, reconhecendo-as, e aceitando que essa é uma fase de preparação para um novo começo, é importante para que seja findado, com sucesso, o período de luto, haja vista que, se mal elaborado, ele pode, depois de um tempo, causar depressão, ansiedade, síndrome do pânico, etc.
Assim sendo, seja no Dia de Finados, ou em qualquer outro dia do ano, o fato de homenagear seus mortos; de entrar em contato com eles, seja pela visita ao cemitério, ou pelo pensamento, e de dar a eles o seu lugar na vida pós luto, possibilita ao sujeito uma experiência que faz bem à sua saúde psicológica e, consequentemente, física, garantindo que este dia proporcione um contato sereno (emocionante, mas sereno) com o morto que vive no enlutado.